Dicas

Essa bebida pode ser doce, salgada, amarga ou azeda, tem caloria zero e seus sais minerais trazem benefícios à saúde

"Insípida, inodora e incolor" são atributos da água que podem servir muito bem na aula de química, mas, para classificar as marcas de água mineral à venda no país, são equivocados. A indústria não pára de crescer e de sofisticar seus produtos. No último dia 12, por exemplo, uma marca brasileira recebeu o certificado de qualidade avalizado pela FDA (agência que regula alimentos e fármacos nos Estados Unidos) e pela OMS (Organização Mundial da Saúde), ou seja, reconhecido internacionalmente.

Preferir uma água em detrimento a outra é uma questão de gosto, no sentido fisiológico mesmo: "Há quatro sensações gustativas básicas: doce, ácido, amargo e salgado", diz o médico Artur Azevedo, vice-presidente da Associação Brasileira de Sommeliers. E o que dá sabor à água são os tipos e as concentrações dos sais minerais presentes nela. Às vezes, as diferenças são tão sutis que só papilas gustativas privilegiadas e treinadas conseguem percebê-las. Mas o simples mortal também pode aprender a degustar águas minerais. O sabor é um dos trunfos que a indústria de água mineral do mundo inteiro usa para valorizar o seu produto.

Somado aos benefícios dos sais minerais, a ausência de calorias e, enfim, a própria necessidade vital de água, a estratégia parece funcionar.

Caloria zero

Água mineral é o produto líqüido mais vendido na Europa (incluindo países idólatras de vinho, como a França). Nos EUA, onde os refrigerantes são, há 20 anos, a bebida mais popular, o consumo de água mineral aumentou 130% em dez anos. Por aqui, o mercado de águas engarrafadas começou a crescer significativamente no começo dos anos 90. Nos cinco últimos anos, a produção praticamente dobrou -de 2,5 bilhões de litros em 1998 foi para 4,7 bilhões em 2002, segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Águas Minerais (Abinam).

A entrada das marcas importadas, de fama tradicional e veteranas na arte de divulgar suas qualidades, estimulou o consumo e agitou a concorrência. As brasileiras correram para não ficar para trás. Hoje, duas marcas já têm o selo NSF (National Sanitation Foundation dos EUA), o certificado de qualidade reconhecido internacionalmente. A primeira a recebê-lo foi a marca Ouro Fino.

Neste mês, a Água Santa Bárbara foi a agraciada, após comprovar o atendimento de cerca de 63 itens que garantem os padrões de qualidade e excelência exigidos internacionalmente. Segundo a Abinam, há mais uma dezena de empresas brasileiras se preparando para receber o certificado. Nos quesitos ser potável e estar livre de contaminação, não há diferença entre água engarrafada de origem comprovada e encanada devidamente tratada, diz Caetano Mautone, químico da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo). A mineral já sai potável da fonte, enquanto a do abastecimento público é captada nos rios e mananciais e tratada com produtos químicos para poder ser consumida. Usa-se cloro, seguro para a saúde, mas desagradável ao paladar quando percebido.

Além do gosto mais agradável, a água mineral pode oferecer benefícios complementares à saúde, diz Marcos Untura Filho, diretor científico da Sociedade Brasileira de Termalismo. O tipo de ação no organismo depende da composição química (sais minerais) e físico-química (como radioatividade) do tipo de água. A presença dos sais minerais também é fonte de mitos. Por exemplo: a idéia de que água mineral pode favorecer a hipertensão está associada ao fato de a maioria das águas conter sódio. "A concentração de bicarbonato de sódio nas águas comerciais é muito pequena para provocar o aumento da pressão sangüínea", diz Untura.

Água e pedra nos rins

A idéia de que pode sobrecarregar os rins e propiciar a formação de cálculos renais também é falsa. "Mesmo em regiões onde há fontes das chamadas águas pesadas (ricas em sais de cálcio), não foi constada uma relação direta com a calcificação dos sais nos rins, conhecidas como pedras renais", diz o diretor do serviço de nefrologia do Hospital das Clínicas de São Paulo, Rui Toledo de Barros.

Ao contrário, diz o nefrologista, a ingestão de grandes quantidades de água e líqüidos em geral é recomendada como proteção para quem tem propensão ao problema. Nesse caso, pode ser indicado o consumo diário de até mais de 4 l. Em geral, a ingestão de água recomendada para repor a perda orgânica é de 1,5 l a 2 l por dia. Fatores internos e externos podem aumentar essa perda, como transpiração excessiva ou um clima muito quente e seco. A combinação desses dois fatores pode elevar a necessidade de reposição para até 5 l diários, diz Turíbio Leite Barros, professor de medicina esportiva da Unifesp. Em situações agudas, como durante a prática de atividades físicas relativamente intensas, uma boa medida é tomar um copo (200 ml) de água a cada 20 minutos de atividade, diz ele. Mas sem neurose: "Nesses casos, o excesso de água pode diluir e reduzir a quantidade de sódio no sangue, causando mal-estar, tontura, náusea e dor de cabeça".

Outro mito

Beber água durante as refeições "dá barriga"? Nada disso. "A ingestão de água, principalmente a gasosa, pode favorecer a formação de gases e distender momentaneamente o abdômen, mas isso é passageiro", diz o endocrinologista Antonio Roberto Chacra, da Unifesp.

Com zero caloria, água não engorda, seja ela consumida durante ou entre as refeições. Mas, como "lava" as papilas gustativas, preparando o corpo para receber mais comida, beber durante a refeição não é o ideal para obesos.

Consumida lentamente, degustada, além de dar prazer, a água pode ser um bom digestivo, pode ajudar a diminuir cólicas estomacais e prevenir cáries, entre outros benefícios.

Aprenda a degustar

Parece coisa de fanático ou excesso de frescura. O fato é que, devido à sutileza de sabor, a degustação de água não é fácil. Mas existem truques! Tornam a tarefa divertida e ajudam a entender as sensações obtidas com as diferentes águas minerais e o porquê da preferência por um ou outro tipo.

Artur Azevedo, da Associação Brasileira dos Sommeliers (ABS), diz que a degustação de água é feita basicamente como a de vinho, porém é muito mais sutil. Ele indica águas em garrafas de vidro para evitar um eventual gosto deixado pelo plástico.

A água deve estar em temperatura ambiente (até 25C). Muito gelada, prejudica a percepção dos quatro gostos básicos -doce, azedo (ou ácido), salgado e amargo. Para percebê-los, deixe a água um certo tempo na boca antes de engolir, diz Rosemeire Alves, química da Sabesp. Isso é necessário porque cada gosto é sentido em uma parte diferente da língua: na ponta, o doce, nas laterais da frente, o azedo, nas laterais do meio da língua, o salgado, e atrás, o amargo.

Para limpar o paladar entre uma água e outra, coma um pedaço de bolacha tipo água ou miolo de pão.

Como o gosto é dado pela concentração de sais minerais na água, ele será definido pelo que estiver em maior quantidade e atingir um limiar maior nas sensações gustativas, diz Azevedo. Assim, o sódio deixa um gosto salgado e ácido. "Dá uma sensação picante na língua, como a de tomar um sal de frutas", exemplifica Rosemeire.

O cálcio é o que produz o gosto mais próximo do doce, diz Caetano Mautone, químico da Sabesp.

Um certo amargo, uma sensação adstringente como a de comer um caqui verde, é provocado pelo magnésio, diz Rosemeire, que define o gosto dos outros principais sais encontrados nas águas minerais do mercado, potássio e manganês, como basicamente salgados.

Rótulo revela tudo

O rótulo das águas comerciais traz sua classificação química, física e físico-química. Entenda o que significam e como agem no corpo.

Alcalina-bicarbonatada-sódica tipo de água com pH menor do que sete, que contrasta com a acidez estomacal, auxiliando a digestão e favorecendo o tratamento de inflamações do aparelho digestivo.

Fluoretada ou fluorada por conter flúor, é útil no processo de calcificação óssea e na prevenção de cáries e como coadjuvante no tratamento de osteoporose. A OMS recomenda seu consumo para prevenir doenças da boca.

Carbogasosa ou carbônica contém dióxido de carbono (CO 2), natural da fonte ou acrescentado artificialmente. A origem do gás vem especificada no rótulo, mas não altera a classificação da água nem suas propriedades, consideradas depurativas dos rins e auxiliares na dissolução de pedras de ácido úrico.

Radioativa ou fracamente radioativa com ação sedativa das vias urinárias e do tubo digestivo, eleva a diurese e ajuda a reduzir cólicas estomacais, intestinais e renais.

Litinada ajuda na depuração do ácido úrico. O lítio tem efeito sedativo, é considerado "calmante", mas a concentração existente nas águas comerciais não aponta para efeitos significativos nesse caso.

Oligomineral possui pequenas proporções de sais (os mais comuns são sódio, potássio, magnésio, manganês, cálcio e flúor). O rótulo pode trazer apenas os nomes e as quantidades desses sais minerais por litro.

Água mineralizada tal inscrição no rótulo significa que se trata de água purificada a qual foram adicionados sais artificialmente. Os adjetivos "leve" e "levíssima" identificam águas com concentrações bem baixas de minerais e sabor mais neutro (são os sais que dão o gosto e certo peso).

Águas com sabor não são propriamente águas minerais, embora sejam seu principal componente. Hoje em dia, pode ser encontrada no mercado uma marca nacional, rotulada como soda aromatizada e composta por água potável carbonatada e extratos e aromas de frutas.

Água no sinal, nem pensar

A Abinam e os médicos indicam algumas precauções que o consumidor pode tomar para garantir a qualidade da água mineral industrializada. A primeira é verificar, no rótulo, o prazo de validade, que normalmente é menor do que muitos imaginam: entre seis meses e um ano.

No caso das águas radioativas, o ideal é procurar as com data de embalagem bem recente, para aproveitar melhor os benefícios da radioatividade, que tem vida útil curta, e consumi-las imediatamente depois de abertas, diz Marcos Untura, da Sociedade Brasileira de Termalismo.

No rótulo também deve constar o alvará do DNPM (Departamento Nacional de Produtos Minerais) e registro no MS (Ministério da Saúde), a composição química e as características físico-químicas.

O local de venda e as condições de armazenagem também devem ser observados. Uma lei municipal promulgada no dia 9 de janeiro deste ano proíbe a venda, na cidade de São Paulo, de água mineral e natural em postos de gasolina, depósitos de gás, borracharias e oficinas mecânicas, bem como a armazenagem em áreas abertas, sujeitas a umidade e poeira, sem ventilação, próxima de produtos tóxicos e materiais de limpezas, em pisos rústicos ou expostas à luz solar direta -portanto garrafinhas vendidas nos faróis durante os congestionamentos, nem pensar.

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